Património Subterrâneo: vital e ameaçado

As grutas Portuguesas e a água que bebemos são bens ameaçados.

A expansão da actividade extractiva nas pedreiras das regiões calcárias é um dos principais problemas que encontramos no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC), onde existem mais de 400 pedreiras. Mas, infelizmente, muitos comportamentos individuais das populações apresentam consequências igualmente desastrosas, como despejo de entulho e lixo nos algares, fossas mal isoladas ou construções ilegais.

O Maciço Calcário Estremenho alberga o segundo maior aquífero do país e é uma área muito vulnerável. As rochas calcárias que existem na serra encaminham a água das chuvas até ao subsolo, alimentando um reservatório de água doce com 767 km2, utilizado para o abastecimento público. A ampliação das pedreiras comporta a destruição de afloramentos calcários situados em zonas de recarga — corremos o risco de comprometer a qualidade e quantidade da nossa água.

Estamos a perder importantes habitats naturais e cenários deslumbrantes que justificaram a criação do PNSAC em 1979.

Nos últimos anos, as pedreiras transformaram-se — uma actividade contida, socialmente importante para as comunidades locais e compatível com os outros valores do Parque Natural, deu lugar a um cancro devorador que nada respeita e que ameaça destruir qualquer nesga de paisagem não esburacada. A recente febre de ampliações, atacando algumas das paisagens mais sensíveis do Parque Natural, e sem qualquer evidência de recuperação do passivo deixado para trás, é completamente inaceitável.

Já não estamos a falar de uma indústria local, mas de vender ao desbarato um património nacional insubstituível: A pedra é um recurso não renovável.

A alternativa mais interessante, igualmente geradora de emprego para as populações locais, é apostar no turismo de natureza que, como noutras regiões calcárias em Portugal e no estrangeiro, é uma fonte de riqueza duradoura porque não destrutiva.

A conservação da natureza e da paisagem calcária é intrínseca aos valores tradicionais desta área protegida e sua envolvente. O facto desta destruição estar a ocorrer no interior de um Parque Natural é ainda mais preocupante. Verificamos que as estruturas criadas pelo Estado para a preservação dos valores naturais não estão a funcionar como deveriam. Somos nós, cidadãos, que temos de fazer alguma coisa para proteger o nosso legado, antes que seja tarde.

Ouse defender as riquezas ocultas no mundo subterrâneo: um território frágil e essencial que aguarda uma estratégia de conservação e que precisa, urgentemente, de ser valorizado.

Estas serras são suas. Proteja-as… antes que seja tarde.

 


Foto: Paulo Camelo - CEAE-LPN