Enquadramento do Buraco Roto - Parte 3 de 4

Microfracturação em banda de cisalhamento associado à falha de desligamento – Na proximidade do plano de falha de desligamento referido observam-se para NNE e ao longo de vários metros grande número de fraturas paralelas entre si (família) que poderão eventualmente camuflar outras falhas de desligamento associadas (o local requer uma análise cinemática de pormenor). Apresentam um evidente angulo com o plano de falha de desligamento.

 

Figura Nº 3.21– Sequência de fracturas  junto à falha de desligamento que poderá incluir outras falhas associadas (interpretação das figuras nº 3.21 e 3.22).

As fracturas prolongam-se ao longo de várias bancadas (A – Ponto de referência para transição). (Fotos: Fernando Pires)

 

Figura Nº 3.22 – Pormenores da deformação na banda de cisalhamento associada: B - Na base da escarpa

e C - No topo em continuação para NNE. (Foto: Raul Pedro e Fernando Pires)

Como se pode verificar pela figura nº 3.23, quando as descontinuidades estão parcialmente abertas, (zona nº5 dessa figura) potenciam a ação mais rápida da erosão superficial sendo a causa da alteração do perfil da vertente. Em profundidade e associadas ao ligeiro mergulho das camadas para Este controlam, em conjunto com as juntas de estratificação, a organização das escorrências subterrâneas.

Figura Nº 3.23 - Falha de desligamento (1). Sistema pervasivo de microfacturas associadas à falha identificável no talude da estrada

(2). Pequeno campo de lapiás de agulha, coberto, na base da escarpa (3). Modelado superficial na vertente Sul do cabeço do Rebelo

evidenciando o prolongamento deste acidente e da fracturação associada (4). Prolongamento para nível estratigráfico superior. (5). (Foto: André Reis)

 

Próximo do topo desta vertente observam-se formas superficiais que sugerem lapiás de agulha. Estas formas são resultantes da erosão das microfraturas paralelas que se prolongaram até este local.

 

Figura Nº 3.24 – Junto ao topo da vertente SW do v.g.d. do Rebelo observam-se, à superfície, alinhamentos de calcários enquadráveis

na tipologia de lapiás de agulha parcialmente enterrado que correspondem ao afloramento dos calcários entre

as descontinuidades verticais paralelas e associadas à falha de desligamento oriental (figura nº 3.6 zona do número 5). (Fotos Fernando Pires)

Seguindo no alinhamento desta banda de cisalhamento para Norte verifica-se também aí a existência de microfraturação paralela que apresenta orientação próxima de NNE.

Descontinuidades quase paralelas à banda de cisalhamento do Vale do Malhadouro – No enfiamento e eventual prolongamento da fracturação descrita fica a entrada do Buraco Roto. No seu lado Norte e ao longo da continuação da parede quase vertical observa-se microfraturação bastante semelhante à existente no Vale do Malhadouro (banda de cisalhamento – figura nº 3.6 - zona número 4)

Figura Nº 3.25 – Foto nº1 - Microfraturação paralela identica à observada junto à falha de desligamento oriental no Vale do Malhadouro

e localizada poucos metros a Norte da entrada do Buraco Roto (figura nº 3.6 – foto número 1). Foto nº 2A– Zona dos primeiros ressaltos

da cascata a SW do ponto núnero 2 identificado por seta vermelha. (Fotos Raul Pedro)

Perto do rebordo dos primeiros ressaltos da cascata apresenta a configuração da foto que se segue. Os indicadores estão muito alterados por ação antrópica. Provavelmente esta zona terá sido exposta nas atividades tectónicas mais recentes sobre a falha principal e sujeita a forte ação de meteorização. A zona final dos maiores ressaltos por onde cai em cascata a água da exsurgência poderá pertencer ao plano de Falha de Reguengo do Fetal.

 

Figura Nª 3.26 – Possível banda de cisalhamento no rebordo inicial da cascata do Buraco Roto (figura nº 3.6 zona do número

2). Idem a cota mais elevada nas imediações ao longo do carreiro a sul da cavidade (figura nº 3.6 zona do número 3). (Fotos: José Ribeiro e Raul Pedro)

Em antiga pedreira a NW do vgd do Reguengo podem observar-se várias fracturas verticais paralelas com direção semelhante às observadas junto à entrada do Buraco Roto (ligeira rotação para a direção N).

 

Figura Nº 3.27 – Fracturação paralela eventualmente associada a falha de desligamento (não observada).

Observa-se em pedreira aparentemente abandonada. (Foto: Raul Pedro)

Brechas de falha – Foram observadas em algumas fendas (fraturas com ligeira abertura) e recolhidas nas imediações, no exterior, fora de contexto, amostras de brechas de falha contendo pequenos clastos calcários de natureza idêntica à da rocha aflorante na envolvente. As observadas a nível inferior aparentam ser as mais antigas. As que se encontram embutidas no espelho de falha da Falha de Reguengo do Fetal poderão ser designadas por brechas tectónicas (Figura nº 3.28).

Figura Nº 3.28 - Pormenor de uma brecha de falha, mais antiga com alguns clastos arredondados

e com aparente fracturação posterior à sua consolidação. (Foto: Raul Pedro)

 

  

Figura Nº 3.29 – Amostras de brecha de falha. (Foto: Raul Pedro)

 

3.3 – Em jeito de conclusão

 

O importante desenvolvimento vertical da família de descontinuidades paralelas observadas no Vale do Malhadouro e a sua possível longa extensão para NNW foram relevantes na evolução do rebordo superior de toda a sua vertente Norte. Aparentam também terem influenciado a evolução de parte da escarpa de falha da Falha de Reguengo do Fetal a sudeste desta povoação.

 

Algumas observações realizadas na zona do Cabeço Rebelo, parte terminal da vertente Norte do Vale do Malhadouro e encosta da escarpa de falha de Reguengo do Fetal em continuação para Norte indiciam que as descontinuidades verticais atrás referidas não têm correspondência semelhante na parte mais baixa da escarpa de falha nesta zona. Esta família de descontinuidades paralelas que se desenvolve de forma expressiva nos calcários oolíticos do Batoniano parece não se ter prolongado para os calcários micríticos da Serra de Aire subjacentes.

 

Figura Nº 3.30 – Ponta ocidental da vertente Norte do Vale do Malhadouro

 

Na microfraturação em banda de cisalhamento associada à falha de desligamento que designámos por oriental poderá, no entanto, ser possível haver algumas fraturas com prolongamento para as camadas a maior profundidade (calcários micríticos da Serra de Aire).

As reativações da Falha de Reguengo do Fetal e a exumação da escarpa de falha na zona a leste da povoação que dá o nome à falha também foram fundamentais na evolução superficial e subterrânea nesta parte do bordo Oeste do Planalto de S. Mamede.

AGRADECIMENTO

Agradecemos o prestimoso contributo do Prof. Dr. José Carlos Kullberg do Departamento de Geologia da Universidade Nova de Lisboa na revisão deste texto sobre o enquadramento tectónico nesta parte do MCE e ainda pelo esclarecimento e explicação detalhada de algumas dúvidas.

 

BIBLIOGRAFIA

CARVALHO, J. M. S. (2013) – Tectónica e caracterização da fracturação do Maciço Calcário Estremenho; Bacia Lusitaniana. Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Lisboa.

CUNHA, P.P.; PAIS, J.;LEGOINHA, P. (2009) – Evolução geológica de Portugal continental durante o Cenozóico – sedimentação aluvial e marinha numa margem continental passiva (Ibéria ocidental). 6º Simposio sobre el Margen Ibérico Atlântico MIA09. Oviedo.

KULLBERG, J.C., MACHADO, C. (2006) – Cartografia Geológica do Mesozóico na AML e aspectos relativos à normalização. O caso da área Metropolitana de Lisboa. Cartografia Geológica Aplicada a Áreas Urbanas. Alcochete, pp 49-61.

MARTINS, A. F. (1949) – “Maciço Calcário Estremenho”. Contribuição para um estudo de geografia física. Coimbra, Editora.

RAPOSO, H. S. (1981) – Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros. Plano de Ordenamento 1ª Parte. Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico. Lisboa

 

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