Grutas de Leceia

1. Enquadramento

O relatório documenta os trabalhos de levantamento topográfico e parecer ambiental sobre as Grutas de Leceia, conforme proposta adjudicada pelo Departamento de Projetos Especiais da Câmara Municipal de Oeiras ao Centro de Estudos e Atividades Especiais da Liga para a Proteção da Natureza (CEAE-LPN).

Nos termos da referida proposta são objetivos deste projeto:
   - Levantamento topográfico à escala 1/200;
   - Parecer sobre a sensibilidade do sítio e os métodos de proteção a adotar;
   - Recomendações sobre a utilização das grutas para fins de desporto de natureza e outros.

Entradas

2. Levantamento topográfico

Numa primeira fase foi executado um levantamento topográfico à escala 1/1000, utilizando uma metodologia expedita, constante no relatório de progresso entregue oportunamente à Câmara Municipal de Oeiras.
Numa segunda fase foi executado um levantamento mais detalhado, à escala 1/200.

O equipamento utilizado incluiu distanciómetros laser com a precisão de 1 cm, bússolas azimutais de mira direta com a precisão de 1º, clinómetros com a precisão de 1º e miras.
O levantamento detalhado envolveu a marcação de 127 estações principais e um total de 295 pontos de medição no interior da gruta.
O trabalho de campo durou cerca de 28 horas (4 dias), envolvendo equipas de 5-6 espeleólogos.

Topografia

3. Trabalho de gabinete

O trabalho de gabinete envolveu a retificação das coordenadas dos pontos, com base em dois métodos complementares: ancoragem do levantamento aos pontos fixos marcados nas principais entradas das Grutas pelo topógrafo da Câmara, e otimização de erros com base no fecho de polígonos a partir de medições cruzadas.

Bairro do Murganhal, Caxias

4. Interesse ecológico

Foi identificada nas Grutas de Leceia uma colónia de Miniopterus schreibersii (morcego- de-peluche).
Trata-se de uma espécie protegida pela lei nacional, comunitária e internacional, classificada pelo Instituto da Conservação da Natureza (ICN) como em situação "vulnerável".

As nossas observações, juntamente com as realizadas por outros espeleólogos, permitiram constatar que as Grutas albergam regularmente um grupo de até três dezenas de morcegos da referida espécie. Não foi possível ainda conhecer o padrão de utilização das Grutas por estes animais, sendo necessário para esse efeito uma monitorização regular.

Podemos dizer no entanto que os morcegos são altamente sensíveis a uma presença humana intrusiva, pelo que a vedação do acesso às Grutas é relevante para este efeito (entre outros), embora tal vedação deve ser permeável aos morcegos. A vedação actual, embora necessite de melhorias, considera-se adequada no que toca a permitir o acesso destes animais.

Vedação de protecção à intrusão

5. Interesse arqueológico

A análise preliminar desenvolvida indica que a maior parte da volumetria destas grutas (mais de 90%) corresponde a uma escavação artificial para exploração de materiais de construção, principalmente no século XVIII. Aparentemente, existe aqui um filão de pedra com qualidade superior, que foi explorado, entre outros fins, para a reconstrução da Baixa de Lisboa após o terramoto de 1755.

Trata-se de um tipo de exploração mineira invulgar, pelo que o seu estudo poderá revelar- se bastante interessante ao nível da arqueologia industrial.

Identificação e registo de vestígios

6. Vulnerabilidade à poluição

Neste tipo de formação geológica – calcários em início de processo de carsificação – os efluentes descarregados no solo ou em fendas da rocha infiltram-se rapidamente em profundidade. Nas visitas efetuadas foram identificados diversos pontos de infiltração do que aparenta ser efluente doméstico não tratado. A causa quase certa desta poluição serão as habitações existentes no terreno, escassos metros sobre o oco subterrâneo das Grutas. Muito provavelmente, algumas destas casas não estão ligadas ao sistema de saneamento municipal.

Este tipo de poluição, além de ilegal, representa um risco para a saúde pública, tanto pela possibilidade de ocorrer o contacto com visitantes, como para a contaminação de águas subterrâneas que possam eventualmente ser utilizadas para fins de abastecimento.

Vestígios de poluição

Ficha técnica

Este trabalho foi realizado pelo Centro de Estudos e Atividades Especiais da Liga para a Proteção da Natureza, com a seguinte equipa:
Direção técnica e fotografia: João Joanaz de Melo.
Desenho final em AutoCAD: Cláudia Ferraria e Timóteo Mendes.

Trabalho de campo: João Joanaz de Melo e Pedro Pinto (coordenação); Timóteo Mendes, Nuno Frade, Dário Batista, Ricardo Oliveira e Filipe Ferreira (desenhos); Tiago Borralho, Ana Sofia Abrantes, Marília Moura, Cláudia Ferraria, José Ribeiro, Paulo Camelo, Pedro Costa, Pedro Frade e Sandra Lopes (medições).